O desenvolvimento econômico e social do Brasil somado às diversas transformações provocadas pela chegada da Copa do Mundo tem causado um era de profunda mudança no futebol brasileiro. É um período interessante. As inaugurações de estádios totalmente adaptados ao futebol contemporâneo convivem com uma grande pressão popular por modernização dos nosso conceitos de jogo. São diversas demandas que apontam para um processo de evolução da indústria futebolística no país, momento que requer de nossas entidades uma compreensão mais profunda do futebol, tanto dentro quanto fora de campo.
Entretanto, este momento de transição têm sido pouco debatido por equipes, federações e confederação. Hoje a falta de definição estratégica e construção de objetivos comuns atrapalha consideravelmente o progresso efetivo da indústria. Em decorrência deste fato, muitos clubes ainda raciocinam de forma simplista e imediatista, como podemos ver nos recentes movimentos para angariar maiores receitas através da comercialização individual das cotas de televisão ou na venda de patrocínios pontuais para os grandes jogos. O futebol brasileiro está em um momento nebuloso, com equipes estrategicamente confusas e sem um rumo coletivo a ser seguido.
Para que os benefícios advindos da Copa do Mundo sejam realmente um motor propulsor de nossa indústria será necessário que nossos competidores se aprofundem na gestão deste esporte e sejam mais altruístas. Não há dúvidas de que grandes evoluções administrativas foram conquistadas ao longo do tempo, nossas equipes passaram a adotar um modelo mais responsável, têm procurado caminhos para cumprir responsabilidades e se desenvolverem institucionalmente. Contudo, ainda estamos atrasados, é momento de elaborarmos coletivamente para desenvolvermos conceitualmente.
A falta de um diálogo mais propositivo faz com que nossos clubes estejam mergulhados numa concepção muito simplória de profissionalismo no futebol. Hoje passamos por um processo de maquiagem de nosso crescimento, com equipes que despendem altíssimos valores em contratações de atletas estrangeiros e repatriações de brasileiros com sucesso na Europa, mas que não apresentam condições estruturais e administrativas que condizem com a importância desta indústria. É necessário que haja padrões de desenvolvimento para que nosso conjunto de clubes comece a evoluir de uma forma homogênea.
Precisamos debater mais profundamente a indústria para elevarmos o futebol brasileiro a outro patamar. Não há outro caminho para o progresso, somente o estabelecimento de uma visão de futuro coletiva nos proporcionará formatos alternativos ao modelo de transferência de responsabilidades atual. Hoje nossos clubes necessitam de conglomerados empresariais para levantar estádios, investidores para contratar jogadores e caríssimos treinadores para obter resultado. O sucesso efetivo de nossa indústria passa necessariamente pelo questionamento dos paradigmas mais complexos do futebol brasileiro.
É natural que hajam resquícios provenientes do fim do Clube dos 13, porém é momento de uma reaproximação para avançarmos. Sempre nos orgulhamos do fato de sermos os únicos pentacampeões mundiais e de revelarmos constantemente os melhores jogadores, está na hora de nos organizamos, estabelecendo estratégias locais e globais para que nossos clubes se tornem instituições alinhadas com as necessidades do século 21.
O futuro de nosso futebol já chegou e está na hora de conversar sobre isso.