O campeonato brasileiro de futebol está chegando a sua reta final e por mais uma edição este torneio tem se mostrado extremamente competitivo. Desde a estréia do modelo de pontos corridos em 2003 pudemos acompanhar um campeonato evoluindo e atingindo sua maturidade, hoje os participantes aprenderam a estabelecer estratégias de competição gerando disputas atrativas dentro da tabela de classificação. Apesar dos diversos debates relacionados à qualidade da arbitragem, problemas de calendário e outros fatos decorrentes das dificuldades estruturais de nosso futebol, é inegável que temos um produto com grande potencial em nossas mãos.
Este torneio é um dos mais competitivos do mundo; antes de seu início nunca sabemos quem realmente está na briga pelo título e sempre temos grandes disputas por vagas na Copa Libertadores e pela permanência na primeira divisão, fato que é invejado por diversas ligas em todos os cantos do globo. Entretanto, estamos muito aquém na exploração comercial deste ativo se compararmos com grandes competições americanas e européias. Neste aspecto ainda somos iniciantes. É fato que o futebol brasileiro está avançando em termos de receita- o último contrato com a TV possibilitou um crescimento considerável nos rendimentos das equipes- e o processo de profissionalização da gestão de alguns clubes vem diversificando as possibilidades de ganho financeiro. Porém, ainda há um longo caminho para alcançarmos as ligas mais rentáveis e importantes.
Para deixarmos de ser apenas um campeonato provinciano e competitivo e assumirmos o protagonismo mundial que nos é de direito é necessário analisar o Campeonato Brasileiro de maneira mais holística, obtendo a compreensão de que somente evoluiremos se a Confederação e os participantes se organizarem em função de um objetivo único. Devemos também criar um maior apelo comercial para o torneio, estabelecendo estratégias em grupo para promover melhores possibilidades de negócio a todos os participantes. Entretanto, para que isso seja possível, precisamos transformar o Brasileirão em um produto e através da exploração comercial da competição gerar oportunidades nos mais diversos setores. Além disso, é imprescindível o estabelecimento de uma estratégia internacional efetiva, não há dúvidas que o processo de desenvolvimento do nosso campeonato passa pela transformação do torneio em uma marca global.
Não há como ter um campeonato com grandes estrelas do futebol mundial, promovendo espetáculos como pudemos acompanhar em Atlético Mineiro x Fluminense e apenas o fomentar de forma eficaz dentro de nosso país. Não há como querer que Neymar seja o melhor atleta do planeta jogando pelo Santos sem fazer com que chineses o assistam atuando. Clubes de diversos países sempre pagaram para ter os nossos melhores atletas, não há porque ter receio de também oferecer ao mundo os nossos melhores espetáculos.
Esta evolução comercial do Brasileiro poderia gerar um incalculável número de oportunidades de crescimento aos clubes brasileiros, o que também incentivaria o processo de profissionalização de nossas equipes. Muitos participantes precisam de um impulso provocado pelos organizadores da competição para instituírem um modelo de gestão eficaz e responsável. Não podemos esperar que cada clube se revolucione administrativamente para que o nosso campeonato se torne protagonista, é preciso que este processo seja liderado e guiado pelos organizadores do nosso futebol.
Pedro Martins
Gestor esportivo, MBA em Indústria do Futebol na Universidade de Liverpool