Os campeonatos estaduais estão a todo vapor. Com sua tradição e história, eles sempre nos trouxeram disputas importantes entre as equipes do interior do estado e os grandes da capital. São confrontos memoráveis, de uma época onde viajar para Jaú, Araraquara ou Bauru era sinônimo de desafio.
No entanto, o tempo passou e o futebol mudou. Desconsiderando exceções que confirmam a regra, a diferença técnica entre os times da capital e as equipes do interior é gritante e, conseqüentemente, desinteressante. Ainda menos motivador são os jogos entre equipes menores, onde a média de espectadores é pouco significativa. Estes times não contam mais com o apoio da população de suas cidades. Deixaram de ser atraentes há algum tempo.
Recentemente, ocorreu o clássico da cidade de Ribeirão Preto entre Botafogo e Comercial. Estas equipes não se enfrentavam na primeira divisão do Campeonato Paulista havia3 25 anos, motivo suficiente para esperar um grande público no local. Porém, havia pouco mais de 8 mil pessoas no estádio Santa Cruz.
Os clubes ficaram tanto tempo sem oferecer bons espetáculos, sem estabelecer alguma conexão entre cidade, população e futebol, que acabaram minguando. A torcida não se renovou e as equipes não perceberam que estavam perdendo seu ativo mais importante. Hoje encontramos instituições sem representatividade e expressão, que vivem apenas do seu glorioso passado.
São times sem gestão profissional, com recursos limitados, e que tem seu futuro determinado pelo volume de investimento externo. São empresários que ajudam por amor, visibilidade ou negócios correlacionados. Não é uma administração sustentável, os clubes se limitam a balcão de negócios e jogam apenas para os apaixonados remanescentes.
Entretanto, não podemos esperar que cada equipe abdique da estratégia atual e que se revolucionem administrativamente. Este processo precisa ser liderado pelas instituições que determinam os rumos do nosso futebol, é importante que times e federações se reaproximem e desenvolvam estratégias que beneficiem a competitividade.
Para ajustar o caminho destes clubes, fadados ao desaparecimento, precisamos reorganizar o calendário e reestruturar o modelo de campeonatos . É igualmente necessário determinar padrões de gestão para as equipes. Precisamos tornar os competidores mais fortes propondo ações coletivas.
É também imprescindível que essas equipes se reaproximem da população. O fortalecimento destas instituições passa pela compreensão do seu papel na sociedade local, equipes históricas não podem se limitar a negociação de jogadores. Não podemos confundir as funções, os clubes precisam ser administrados como empresas, mas a síntese sempre será a paixão.
No entanto, é preciso compreender o futebol globalizado e oferecer diferentes atrativos para o público. Se houve um afastamento é porque falta identificação e benefícios tangíveis. Talvez a recuperação da identidade local venha de uma participação mais efetiva na sociedade, utilizando o futebol como ferramenta de inserção social de crianças e adolescentes da região.
Não podemos nos iludir, os clubes que tem a maior torcida terão a maior receita. Contudo, sabemos que é possível ter futebol competitivo e de qualidade em diferentes níveis. Não há dúvida de que existem diversas barreiras para atingirmos a profissionalização plena do futebol brasileiro. É um processo lento, mas que precisa ser mais dialogado, antes que o voluntarismo transforme alguns clubes em reminiscências.
Isto é, se ainda queremos lutar contra isso.